Seu fígado pode se regenerar se você tiver cirrose?

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Seu fígado pode se regenerar se você tiver cirrose?

Nos últimos anos, tem havido grande interesse na possibilidade de obter regressão da fibrose hepática, tendo em conta os resultados alcançados com o tratamento da hepatite C crónica pelo vírus. No entanto, atualmente há controvérsia sobre o significado dos termos reversão e regressão da fibrose cirrose hepática. A reversão da cirrose implica restauração completa da arquitetura hepática até a normalidade, com desaparecimento da mesma; em vez disso, a regressão consiste na “melhoria” da fibrose/cirrose para um grau inferior ao inicialmente encontrado, chegando em alguns casos à normalidade.

A possibilidade de cessação ou desaparecimento da fibrose/cirrose constitui um importante foco de pesquisa das últimas décadas que desafia a “velha” concepção da irreversibilidade da fibrose hepática, considerada uma alteração unidirecional sem possibilidade de retorno.

Fibrogênese Hepática

A fibrose hepática é considerada uma resposta para a cura, que visa limitar o dano tecidual produzido pela lesão hepática crônica independentemente da etiologia, mas quando a agressão é persistente, esse processo de cura pode produzir alteração da arquitetura hepática devido ao aparecimento de cirrose, que se caracteriza por faixas de fibrose, nódulos de regeneração parenquimatosas e distorção vascular.

A composição da cicatriz fibrosa hepática é semelhante, independentemente da causa da lesão, seja de origem viral (vírus da hepatite B ou C), drogas, álcool, doenças autoimunes ou metabólicas (Hemocromatose, Wilson…).

A fibrose ocorre nos locais de maior lesão e geralmente requer que o estímulo prejudicial persista por muitos meses ou anos.

Embora este processo tenha sido classicamente considerado irreversível, as evidências clínicas e experimentais sugerem o contrário.

A revisão de amostras histológicas de pacientes com doenças hepáticas crônicas de diversas etiologias tratadas com sucesso com suas respectivas terapias, e também de amostras de modelos animais de fibrose, indicam que a fibrose é um processo bidirecional e dinâmico no qual pode ocorrer recuperação e remodelamento do tecido cicatricial, principalmente nos estágios iniciais. Porém, ainda não se sabe o ponto a partir do qual a cirrose não retorna ou é irreversível.

Para que a fibrose se inicie são necessários alguns elementos (derivados da lesão dos hepatócitos e não necessariamente da presença de células inflamatórias), como foi demonstrado na hemocromatose, por exemplo, onde não há células inflamatórias.

Histologicamente, o fígado é composto por células parenquimatosas (hepatócitos) e células não parenquimatosas. Os hepatócitos representam 80% do volume hepático e as células não parenquimatosas 6,5% do total do fígado e 40% destas são encontradas nos sinusóides hepáticos, nos quais existem três tipos de células: células endoteliais, células de Kupffer e as células estreladas hepáticas.

As células estreladas hepáticas são células perisinusoidais localizadas no espaço subendotelial do espaço de Disse, que em seu estado quiescente têm como principal função servir como repositório de retinóides (vitamina A e seus metabólitos).

Porém, diante de estímulos agressivos como vírus, álcool ou outros, através do processo de “ativação”, essas células se transformam em outras totalmente diferentes, morfologicamente semelhantes aos miofibroblastos (são o tipo de células mesenquimais responsáveis ​​pela cicatrização de feridas e reparação tecidual em todos os órgãos e vários estados fisiológicos), mas com múltiplas funções adicionais como a produção da matriz extracelular e de citocinas pró-inflamatórias. Este miofibroblasto é caracterizado pela sua proliferação, atividade contrátil e fibrogênese (desenvolvimento de tecido fibroso). As células estreladas hepáticas foram identificadas na década de 1990 como uma importante fonte de colágeno no fígado e, a partir desse conhecimento; a fibrose hepática passou a receber maior atenção. Essas células estão em contato físico com os hepatócitos e com as células endoteliais dos sinusóides hepáticos com seus prolongamentos citoplasmáticos.

Estima-se que 85% do conteúdo de vitamina A no fígado esteja nas células estreladas hepáticas.

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