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Quais drogas podem causar priapismo?
Uma das principais causas do priapismo de baixo fluxo é o uso de medicamentos com efeito antagonista α-adrenérgico, entre os quais se destacam os antipsicóticos, aos quais são atribuídos até 50% desses casos. Supõe-se que o bloqueio adrenérgico desencadeie um desequilíbrio em favor do tônus parassimpático com o consequente relaxamento das arteríolas cavernosas, diminuição do retorno venoso sinusoidal e ingurgitamento persistente dos corpos cavernosos. Sequencialmente, o aumento da pressão tecidual (que na prática constitui uma síndrome compartimental) excede a pressão arterial com a consequente isquemia, hipóxia e acidose que, à medida que a cascata de eventos avança, levará à trombose, morte celular e fibrose peniana.
Embora a incidência de priapismo na população seja de 15 por 100.000 (e duplique entre homens com mais de 40 anos, que é a faixa etária mais afetada), a gravidade das possíveis sequelas impõe um reforço da atitude preventiva face à possibilidade desta complicação: no caso do priapismo induzido por antipsicóticos, medicamentos habitualmente utilizados para uso crónico, uma medida preventiva elementar é detectar a presença de factores de risco adicionais como, entre outros: discrasias sanguíneas (policitemia, talassemias, doença falciforme), uso de substâncias psicoativas (álcool, cocaína, anfetaminas), uso de outros α-bloqueadores (terazosina, tansulosina, guanetidina, etc.), que poderiam desencorajar o uso de antipsicóticos com alta afinidade α-antagonista, como a risperidona ou, no caso de prescrição, obrigatoriamente impor monitoramento rigoroso. Também devem ser consideradas potenciais interações farmacocinéticas que aumentem os níveis plasmáticos de medicamentos associados ao priapismo. Além disso, foi descrito que muitos pacientes desenvolvem ereções prolongadas e indolores antes do episódio completo de priapismo: no entanto, os pacientes não mencionam espontaneamente esse problema (nem os médicos costumam abordá-lo). Neste sentido, os utilizadores devem ser interrogados sistematicamente quanto à presença destes fenómenos durante o tempo de utilização da droga e, caso haja resposta positiva, considerar a sua possível suspensão em tempo útil.
A abordagem terapêutica do priapismo depende fundamentalmente do tipo diagnosticado: no caso do priapismo isquêmico, o manejo inicial envolve aspiração e irrigação direta dos corpos cavernosos com agentes simpaticomiméticos diluídos -por exemplo, fenilefrina ou etilefrina- e, em caso de falha desses procedimentos, a anastomose cirúrgica dos corpos cavernosos deve ser feita ao corpo esponjoso ou tributárias venosas -como a veia safena magna- para atingir o pênis Flacidez: seja a anastomose realizada ao nível da glande ou, em casos mais graves, até mesmo na base do pênis.
Conclusão
A ampla utilização de medicamentos como os antipsicóticos na medicina, na psiquiatria e em outras especialidades obriga os médicos a levar em conta esse evento adverso pouco frequente, mas deletério, do priapismo, que pode muito bem ser classificado como idiossincrático, uma vez que não está relacionado com a dose do psicofármaco ou com a duração do tratamento.
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